A tradicional festa "Cantar os Reis", de porta a porta,

pela Casa dos Açores

Textos e Fotos de: Carlos Morgadinho
Adiaspora.com

O "Cantar os Reis" como é chamado na Região Autónoma dos Açores ou "Cantar as Janeiras" na maior parte do Continente, é uma tradição que não "morreu" cá pelas nossas comunidades do Ontário. É ver, todos os anos, muitos dos nossos clubes e associações com os seus grupos de músicos e cantadores a fazerem "peregrinações" por muitas casas do nosso comércio local onde os seus proprietários, ou empregados, os recebem com toda a pompa oferecendo no final, como gesto de agradecimento, pequenos banquetes de carnes frias ou churrasco, sanduiches, linguiça e morcela e farta pastelaria mais os refrescos.

O escriba deste texto, recorda, há muitos anos atrás, ainda criança, de ir pelas aldeias, acompanhar, os seus familiares nestas andanças e tradições seculares, onde se cantava à porta dos familiares, vizinhos, dos morgados, do médico da Vila, presidente da junta de freguesia e outras pessoas de destaque na vida desses aglomerados onde no final das atuações todos eram convidados a entrar nessas casas que apresentavam as mesas fartas de aperitivos, comida e bebidas.

Esta tradição não ficou para trás quando a nossa gente aqui se radicou e ano para ano estas tradições se vêm mantendo e assim temos não só o enraizamento como a disseminação desta riqueza cultural ligada à Natividade do Salvador, o Jesus Menino.

Pois no passado dia 5 de Janeiro, fomos, logo de manhãzinha (mais ou menos às 6 horas) até à sede desta nossa casa regional, a Casa dos Açores do Ontário, onde nos esperava um autocarro para transportar os músicos e o grupo de cantadores/as que emprestavam as vozes as musicas tradicionais muitas delas de autores desconhecidos e que vem sendo passada de pais para filhos.

Fomos, liderados pela presidente desta Casa, a Lucília Simas, como primeira etapa para uma sessão destes cantares nos estúdios da Chin Radio, no programa português matinal - Magazin FM - com os locutores de serviço, António César e Isabel Ricardo, tendo seguidamente seguido o autocarro que nos transportava para o norte, mais precisamente para a moradia do nosso conterrâneo José Gonçalves, proprietário da empresa "J.G. Landscaping", em Georgetown, onde tanto à porta como já dentro de casa se cantou os "Reis" tendo no final sido convidados para uma refeição farta de tudo que imaginamos de bom e delicioso.

Neste convívio agradável esteve presente outro nosso patrício, o industrial Horácio Domingos e outros amigos do José Gonçalves. Junto à lareira estava montado um largo e bem decorado presépio que segundo nos foi dito é uma tradição bem açoriana nesta época festiva.

Regressámos a Toronto e, nesta cidade, muitas foram as firmas e casas que parámos para ali se cantar os "Reis". Foram tantas que possivelmente cometemos o lapso de não assentá-las todas mas que deixaremos os nomes com a possível omissão de algumas pelo que antecipadamente deixamos aqui as nossas desculpas.

Assim entrámos nos estabelecimentos do Talho Rui Gomes (St. Clair), Amar Flowers, Matata Jewllery, Caldense Bakery (na Dundas & Dovercourt), Jack's Bakery, Brazil Bakery (Dundas/Sheridan), Macedo Grape Wine (Dufferin); Courense Bakery, Newport Fish (Alliance Ave/Weston Rd), A Lota Seafoods (Dundas/Dufferin), Restaurante Ilhas de Bruma, Salsicharia Pavão, onde até se dançou umas mornas de S. Miguel (não o Luís Pavão. Este só filmou...) mas alguns elementos que acompanhavam a caravana da CAO e uma empregada bem divertida do talho numa folia bem alegre. Foi bonito. Gostámos.

Cantou-se também na Casa do Benfica, embora esta não estivesse no programa do itinerário previamente aprovado mas por solicitação, já na Avenida de St. Clair, de vários elementos da nossa comunidade dos quais destacamos o Mário Marissol (Aveiro Concrete & Drains), Mário Narciso que sabemos ter uma companhia de renovações/construção de casas e do Alberto Costa, este bem conhecido na industria de serralharia com a oficina Costa Railings.

Visitou-se e cantou-se também na casa da Lídia de Sousa, na Dupont & Dovercourt St) benfeitora da CAO, tendo já de noite o grupo de cantares regressado à sede da Casa dos Açores, na College St., onde a festa continuou com mais cantares aos "Reis" desta com as visitas de outros grupos dos quais destacamos a Casa dos Poveiros, Estrelas do Norte, Amigos do Minho, Associação Cultural do Minho e do Arsenal do Minho que acabou bem tarde com este ultimo grupo e as suas concertinas com cantares ao desafio, bem mesmo à moda da região do Minho "Maroto".

O grupo de cantares os Reis desta Casa dos Açores era formado por 18 elementos entre músicos com concertina, bandolim (Gabriela Teles), Viola da Terra (Manuel Bulhões da Ponte), viola baixo (Chris Freitas), pandeireta, bombo, ferrinhos mais os cantores.

Deixamos entre de muitas uma das letras executadas por este grupo de cantares da Casa dos Açores do Ontário, originária da Ilha Terceira:

A MODA DOS REIS (TERCEIRA)
Já chegou à vossa porta
Quem haverá de chegar
São todos amigos vossos
Que vos vem visitar

A minha boca não berra
À beira dos teus abrigos
É uso na nossa terra
Visitar sempre amigos

A cabana era pequena
Não cabia todos os três
Adorar o Deus Menino
Cada um da sua vez

Acabados tão os Reis
E agora vem a chacota
E o senhor dono da casa
Mandai lhe abrir a porta

Lá fora está muito frio
Eu já venho cá pra dentro
Trago-compadre pra aqui
Qualquer coisa para aquecer

Tão bonito este serão
Mas o frio cá fora corta
Por isto eu peço-te patrão
Que nos venha abrir a porta

Meu rico dono/a da casa
Porta aberta, luz acesa
Abre as portas do armário
Punha o vinho em cima da mesa

E as horas estão chegadas
A gente já vai embora
Mil desculpas quer pedir
Pr'os senhores as e pr'as senhoras

Não há duvida que todos eles, os grupos que neste sábado e dia seguinte, domingo, actuaram, estavam bem ensaiados e tirando as letras, diferentes de grupo para grupo, tinham o mesmo fim, o de louvar o Deus Menino.

Queremos ouvir a sua opinião, sugestões ou dúvidas: info@adiaspora.com

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